Exposição Polinuclear
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Vila do Conde [24.06.2021], Lisboa [15.07.2021], Baião [25.07.2021] e Ermesinde [31.07.2021] acolhem a nova exposição polinuclear da artista plástica Cristina Rodrigues que se estenderá de 24 de junho a 31 de outubro.
O Cais da Alfândega de Vila do Conde, no dia 24 de junho, dia de S. João, feriado municipal vila-condense, às 17h, foi o local escolhido por Cristina Rodrigues para apresentar ao público a sua exposição polinuclear Clamor da Maré Cheia. Seguir-se-á o Jardim do Museu Nacional de Arqueologia – Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, no dia 15 de julho, o Mosteiro de Santo André de Ancede, em Baião, a 25 de julho, e, a 31 de julho, o exterior do Fórum Cultural de Ermesinde que receberão as outras instalações que compõem a exposição.
Clamor da Maré Cheia – exposição polinuclear – composta por quatro instalações de arte contemporânea, concebidas em sintonia com o lugar de exibição. Uma narrativa que exalta o Homem como um ser curioso e trabalhador, capaz de enfrentar grandes adversidades por caminhos desconhecidos. As esculturas que integram a obra – quase cinco dezenas de peças que utilizam o ferro e redes de pesca como matéria de trabalho –, são fruto de uma reflexão da autora sobre a odisseia humana.
Vila do Conde, cidade conhecida pelos seus estaleiros navais; Belém, lugar de onde os portugueses partiram à descoberta do mundo; Ermesinde, fundada essencialmente para ser uma cidade de trabalho e o Mosteiro de Santo André de Ancede, Baião, um local onde sempre se celebrou o culto do espírito, enquadram esta narrativa de Cristina Rodrigues.
Nas diferentes datas de inauguração, com a exceção do dia 15 de julho, Cristina Rodrigues brindará os visitantes com um concerto da cantora lírica Carla Caramujo, que interpretará obras de Hahn, Fauré, Puccini, Lacerda, Vianna da Mota, Grieg e Rachmaninoff, acompanhada por um quarteto de cordas composto por Álvaro Pereira e Evandra Gonçalves nos Violinos, Luis Norberto na Viola-d’arco e Michal Kiska no Violoncelo.
A soprano construiu o programa do concerto, também intitulado Clamor da Maré Cheia com peças de compositores que, tal como Cristina Rodrigues, se inspiraram no mar para criar. O mar transporta o labor, o sustento e a espiritualidade e estes autores interpretam-no de forma singular. A sua beleza onírica, o seu ruído, ora ameaçador, ora nostálgico, a sua influência na vida das populações, transporta-nos para um universo de emoções, similares em qualquer latitude, afirma Carla, sobre o mar.
► Cristina Rodrigues & Carla Caramujo | Notas biográficas