As peças de escultura romana até agora encontradas no nosso território são, não só relativamente escassas como mostram uma genérica falta de qualidade em relação à escultura proveniente de outras áreas do império.
O Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia conta, no entanto com uma grande colecção, a maior do País, reunida, sobretudo, graças ao trabalho de dois arqueólogos pioneiros: Estácio da Veiga e José Leite de Vasconcelos.
Foram selecionados os exemplares que se mostraram mais representativos sob os aspectos técnicos e temáticos. São apresentadas esculturas e relevos de pedra, mármore e granito e um núcleo de peças de bronze abrangendo, num seu todo, um período amplo, situado principalmente entre os séc. I e II d.C.
A escultura romana deve ser considerada a expressão última da arte helenística à qual acrescenta uma forma original: o retrato realista de personagens importantes, desconhecido da arte grega. À colecção do Museu Nacional de Arqueologia pertencem retratos de Octávio, Adriano e provavelmente de Júlia Domna, filha de Tito. Algumas das estátuas sem cabeça podem ter sido originalmente estátuas retratos de personagens imperiais ou de romanos de alta estirpe.
Estão bem representados os deuses do Panteão greco-romano: Apolo, Marte, Mercúrio, Dionísio e Ariadne, Sileno e Baco e também um Endovélico – Serapis, divindade local assimilada certamente ao panteão clássico.
De carácter marcadamente religioso é um grupo de esculturas ligadas a cultos mágicos de protecção, a cultos de fecundidade, ou com carácter de ex-votos, e destinadas a figurar nos templos e nos oratórios particulares. Estão neste caso muitas das estatuetas de bronze: as que representam Fortuna, a estatueta Panthea, o atlante, a estatueta itifálica e alguns dos pequenos bustos femininos de bronze, estátuas de animais. São ex-votos certamente as aras consagradas a Endovélico e a Marte. Peças decorativas de temática religiosa são os relevos vindos de Frende e que pertenciam provavelmente a um friso de templo.
Um conjunto de peças de temática religiosa destinava-se a usos profanos: as cabeças e bustos de erotes ou de ninfas que ornamentavam jardins e fontes, um vaso com a forma de um busto de Mercúrio ou de fauno, a máscara báquica de uma fonte e as lucernas ornamentadas de máscaras báquicas. Entre as esculturas simplesmente decorativas contam-se a lucerna com a forma de cavalo, a quadriga pertencente a um arnês de cavalo, a vara com cabeça de javali, as asas de aro de sítulas ou baldes.
A partir do séc. II o ressurgimento de prática de inumação de cadáveres teve por consequência o fabrico de sarcófagos, alguns dos quais mostram painéis de relevos. Os motivos dos sarcófagos apresentados foram extraídos da mitologia helenística e estão relacionados com a morte e a vida futura: temas báquicos e mitraicos simbolizando as alegrias da vida futura, como no sarcófago achado em Vila Franca de Xira ou no encontrado em Troia, ou ainda símbolos da sabedoria necessária para alcançar a felicidade, como no sarcófago que veio de Chelas. De resto estes temas aparecem também nos relevos da ara vinda de Avis ou numa pequena urna cinerária.
Nesta exposição podemos encontrar exemplares de estatuária romana do norte do país, geralmente de carácter e execução rude, de granito, como o conjunto de Frende, Baião, mas, sobretudo, estatuária encontrada no sul do país, importada de oficinas itálicas ou mesmo hispânicas (talvez de Mérida), ou de execução local, de melhor feitura que as do norte.
Nesse núcleo mais representado nas colecções do Museu, merecem destaque os conjuntos vindos dos santuários de Endovélico (São Miguel da Mota, Alandroal), de Mértola e o grupo de estátuas de proveniência algarvia principalmente as de Milreu e de Balsa.
O Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia pretende chamar a atenção do público para o conjunto mais significativo de estatuária romana existente no território português.
José Luís de Matos e Rosa Varela Gomes
► Catálogo - Escultura Romana (em execução)
► Guia - Escultura Romana [Português] (em execução)
► Guia - Sculpture Romaine [Français] (em execução)
► A propósito da exposição Escultura Romana, ler o artigo ALMEIDA, Justino Mendes de - «A Epigrafia na Exposição de Escultura Romana no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia» in O Arqueólogo Português, Série 4, I, 1983, pp 337-346.
Datas: 23 de junho de 1980 | Local no MNA: Átrio do Museu | Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia | Comissariado científico: Caetano de Mello Beirão e Mário Varela Gomes | Projeto de Museografia: Mário Varela Gomes | Texto: José Luís de Matos e Rosa Varela Gomes | Tipo de exposição: Síntese nacional