Ao deixar a exposição "Portugal Romano: A exploração dos recursos naturais" que neste mesmo local o conduziu “de Ulisses a Viriato’, o visitante cruzou-se com Augusto, o imperador que “trouxe paz, felicidade e liberalidade a um mundo cansado de guerra”.
Ilustrar o mundo que adveio, na globalidade dos seus múltiplos aspectos, pareceu-nos excessivamente ambicioso para o espaço expositivo de que dispúnhamos.
Assim nasceu o propósito de abordar um aspecto apenas, mas com real impacto e interesse científico; a exploração dos recursos naturais impôs-se-nos como uma boa opção.
Aliás num momento da História em que tanto se acredita que o progresso técnico e económico é indispensável à felicidade dos povos e a gestão concertada dos recursos assegura a paz, aproximando as diferentes regiões sem, contudo, anular as diferenças que as caracterizam, a experiência romana fornece motivos de reflexão.
Dada a complexidade do tema, conjugando cinco núcleos distintos [1. A Água; 2. Os Recursos Marinhos; 3. Rochas e Minerais; 4. Os Metais; 5. Agricultura], o tratamento que dele fizemos não poderia ser exaustivo nem quanto à enumeração dos recursos naturais explorados nem quanto à sua investigação. Além disso, embora se apresentem testemunhos provenientes de sítios diversos, não se julgou imprescindível garantir uma representação equitativa das diversas regiões que integram o território português, resultando clara, de um ou outro modo, a nítida diferença entre a Lusitânia e as terras a Norte.
Poderá estranhar-se que, sendo o espaço disponível escasso, se exponham objetos algo marginais pela sua proveniência ou função.
Alguns desses objetos — por exemplo, as etiquetas de chumbo para ânfora, provavelmente de origem africana — são documentos raros e praticamente desconhecidos, fora do círculo restrito dos especialistas. Outros, como os espólios sepulcrais selecionados para Tróia, Porto dos Cacos e Aljustrel ajudam a imaginar ambientes e recordam-nos o alcance que as redes comerciais então possuíam, respeitando, sem dúvida, privilégios e acordos, mas ignorando completamente as distâncias. A balança de Mértola, aparentemente tão deslocada, apresenta-se como um emblema evocativo do rigor técnico, da eficácia organizativa e da capacidade de realização que tornaram possível o Império Romano.
O visitante dar-se-á conta, sobretudo se ler o catálogo que alguns assuntos são ainda alvo de muitas dúvidas e interrogações; nuns casos por falta de testemunho arqueológico ou testemunhos recolhidos em deficientes condições; noutros casos, porque as opiniões dos especialistas divergem.
Com efeito, raramente os caminhos da História são lineares e os seus testemunhos materiais de fácil interpretação. Expor é a forma de comunicação, por excelência, que o museu possui para cumprir a sua função de torna-los eloquentes, dando-lhes a oportunidade de dialogarem entre si e com o público em geral. Que esta exposição saiba suscitar um diálogo reciprocamente enriquecedor!
Adília Moutinho Alarcão
► Catálogo "Portugal Romano: A exploração dos recursos naturais"
Datas: 17 de julho de 1997 a 19 de abril de 1998 | Local no MNA: Galeria Oriental | Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia | Comissariado científico: Adília Moutinho Alarcão | Tipo de exposição: Síntese nacional de conhecimentos