Descoberto e transportado para o Museu Nacional de Arqueologia, em meados do século passado, o chamado “mosaico das musas” da villa romana de Torre de Palma, em Monforte, constitui o mais notável exemplar do seu tipo conhecido até hoje em Portugal. Depois de ter sido objeto de demorado restauro, apresenta-se agora ao público toda a sua parte figurativa, onde alguns dos quadros mitológicos representam autênticas obras-primas, tanto do ponto de vista pictural como do ponto de vista mosaicista. É este o caso do “coro das Musas”, do chamado “triunfo indiano de Baco”, das cenas trágicas de Medeia, meditando no infanticídio, e de Hércules, enlouquecido por Juno, preparando-se para matar a mulher e os filhos. Esta é, aliás, a única representação conhecida desta cena no Mundo Romano, tendo por suporte o mosaico.
Muitos outros motivos poderiam ser citados. Todavia, talvez a mais espetacular obra-prima do mestre mosaicista de Torre de Palma seja o quadro da luta de “Teseu contra o Minotauro”, no labirinto de Creta. Tem-se aqui a impressão de estarmos em presença de uma representação moderna, com uma expressividade que nos recorda a força de um Picasso.
Com uma tal obra, é todo o Portugal Romano que se torna agora mais familiar: a vida de um aristocrata romano ou romanizado dos finais do século III depois de Cristo, a sua casa, os seus ambientes decorativos, as suas riquezas, o seu imaginário, os seus sonhos, enfim, a sua cultura e as suas ambições sociais, surgem de novo aos nossos olhos com a força das imagens retidas nos seus mosaicos. E que outra compensação poderia ele ter do que a de saber que, tantos séculos volvidos, as mensagens escolhidas para sua casa ainda provocam em nós a mesma interpelação, a mesma inquietude?
Como compreendemos bem, pois, e fazemos nosso, o apelo que os mestres mosaicistas, certamente com o acordo (ou por imposição) do dono da casa, inscreveram no próprio “mosaico das musas”, à entrada da divisão mais nobre da casa: SCOPA ASPRA TESSELLAM LEDERE NOLI. VTERI FELIX. (Não estragues o mosaico com uma vassoura demasiado áspera, boa sorte!).
Datas: 12 de março de 2002 a 1 de janeiro de 2003 | Local no MNA: Torre Oca | Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia | Comissariado científico: Adília Alarcão e Janine Lancha | Tipo de exposição: Apresentação monográfica do mosaico das "Musas". Torre de Palma