Datas:19 de setembro de 2013 a 31 de dezembro de 2013
Local no MNA: Circuito expositivo do MNA
Organização institucional: Cristina Rodrigues e Museu Nacional de Arqueologia
É um grande desafio desenhar uma exposição num museu curado por investigadores nas áreas de arqueologia e etnografia e contar uma história com as minhas peças que responda e conviva, ao mesmo tempo, com os inúmeros objectos que habitam permanente ou temporariamente o Museu Nacional de Arqueologia no Mosteiro dos Jerónimos. Com cerca de dois milhões de visitantes anuais, este é um dos espaços que recebe mais turistas em Portugal. É um lugar místico onde a maior catedral em estilo Manuelino coexiste com várias peças dedicadas a divindades do Império Romano, as quais estão hoje alojadas nos antigos aposentos do Mosteiro. Nesta exposição proponho contar a história de vários objetos que fazem parte do quotidiano rural português e que muitas vezes passam despercebidos.
A exposição que desenhei recentemente para o MUDE, Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo, levou-me a conviver muito de perto com o Museu do Design, onde passei catorze horas diárias durante doze dias a montar o "Museu Rural do Século XXI". Foram muitas as pausas em que visitei a coleção de design ali residente e me questionei sobre quantos portugueses viveram ou utilizaram peças como as que ali se encontravam expostas. Eu própria nunca utilizei peças similares que pertencem a uma elite de pessoas.
Na exposição do Museu Nacional de Arqueologia quero, com as minhas peças, contar histórias sobre objetos que fazem parte da vida do português comum, objetos que apelam a uma memória mais coletiva. A identidade é algo de tão profundo que marca completamente quem somos e as nossas relações sentimentais com os objetos. Sento-me todos os dias numa cadeira e sonho com o futuro que virá. Mas que cadeira é essa? Como escolho o seu design? E aquelas cadeiras que me povoam a memória de imagens da minha infância e do meu passado em geral, como são? Todos os dias passamos por portas que são diferentes no Porto, em Lisboa ou em Manchester. Os objetos são uma das construções da identidade nacional. Estão presentes em todas as nossas histórias e memórias. Assim, fiz várias visitas à sucata onde se acumulam os objetos velhos e devolutos que pertenceram ao Município de Idanha-a-Nova. Queria que todas as peças novas que estou a produzir para a exposição reutilizassem objetos que pertenceram a espaços públicos e privados daquela região. O Município doou peças que haviam sido remetidas para a lixeira e com elas estou a construir a minha arte.
A sociedade de consumo ensinou-nos que tudo tem curta duração e então desfazemo-nos de imensos objetos, cadeiras, mesas, estantes, etc., ao longo da vida. Para substituir estas peças compramos outras com um design "mais recente". Em contraste, nesta exposição, o valor sentimental dos objetos assume um lugar central e intemporal. Todo o trabalho de recolha de entrevistas, sonoridades e objetos que fazem hoje parte do universo rural português é agora transportado para esta exposição. A recolha etnográfica é uma metodologia que pode alicerçar a criação de peças de Arte Contemporânea e que permite uma profunda ligação com a memória e identidade coletivas.