Antiguidades Egípcias
A coleção de antiguidades egípcias do Museu Nacional de Arqueologia constituída por mais de quinhentas peças (das quais cerca de trezentas em exposição permanente) é a maior de Portugal, tendo sido reunida ao longo do século XX. Em 1909 Leite de Vasconcelos, fundador do Museu, trouxe do Egito cerca de setenta objetos; umas duzentas peças foram obtidas pela rainha D. Amélia durante a sua viagem ao Egito em 1903, passando para a posse do Estado em 1910; as restantes foram doadas pela família Palmela, por Bustorff Silva e Barros e Sá entre outros. Há cerca de oitenta peças de origem desconhecida.
A exposição cobre mais de cinco mil anos de história, indo desde a Pré-história (c.6000-3000 a.C.) até à Época Copta (395-642 d.C.) e nela estão representados os grandes períodos da civilização egípcia: o Império Antigo, o tempo áureo das pirâmides (c.2660-2180 a.C.); o Império Médio, uma época de grande brilho cultural (c. 2040-1780 a.C.); o Império Novo numa fase de expansão e de cosmopolitismo (c. 1560-1070 a.C.), a Época Baixa, como seu renascimento artístico (664-332 a.C.); e a Época Greco-romana (332 a.C.-395 d.C.), durante a qual o Egito manteve uma notória independência cultural.
Luís Manuel Araújo, comissário da exposição
Outros estudos sobre a coleção:
♦ FIGUEIREDO, Á. (2005) - The Lisbon Mummy Project: The employment of non-destructive methods in mummy studies;
♦ The Lisbon Mummy Project | Reportagem SIC;
♦ Múmias á Alfacinha | Revista "Super Interessante"
Datas: 20 de Dezembro de 1993 > 18 de abril de 2022 | Local no MNA: Sala Egípcia | Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia | Comissariado científico: Luís Manuel Araújo | Tipo de exposição: Apresentação de uma colecção
Tesouros da Arqueologia Portuguesa
O Museu Nacional de Arqueologia possui nas suas coleções um número notável de objetos de joalharia antiga, provenientes de escavações ou, mais frequentemente comprados a ourives ou aos próprios achadores, que pela sua representatividade, permitem uma visão de conjunto sobre a evolução desta arte no atual território português, desde os primórdios da metalurgia até à Alta Idade Média. Esses objetos foram reunidos ao longo de várias décadas e as circunstâncias particulares da sua aquisição explicam a frequente ausência de informação sobre as condições de achado e contextos arqueológicos que permita, quer determinar a posição cronológica ou a localização geográfica dos achados, quer extrair conclusões que vão para além da simples análise material dos objetos, limitada a aspetos formais, estilísticos ou técnicos. De facto, os materiais arqueológicos não são em si mesmos documentos acabados e para que possam ser historicamente valorizados é necessário conhecer-se o contexto exato em que foram encontrados, em que possuíam uma função.
Desde a remota antiguidade a Península Ibérica foi conhecida pela riqueza das suas jazidas metalíferas, onde abundavam o cobre, o estanho, o ouro e a prata. Compreende-se, com efeito, com base nos atuais conhecimentos decorrentes da investigação arqueológica, que à pobreza relativa das comunidades de pastores e agricultores do Neolítico peninsular suceda, com a adoção da metalurgia, um notável desenvolvimento económico e cultural. O primitivo comércio marítimo do Mediterrâneo e do Atlântico contribuiu para que, desde cedo, se cruzassem na Península influências de origem distinta que iriam moldar o caráter da produção artística, em particular das obras de joalharia.
Os primórdios da metalurgia do ouro: Calcolítico e Idade do Bronze
Os primeiros objetos em ouro, na Europa, datam do V.º milénio a.C. e foram produzidos na região balcânica.
O sul e o ocidente da Península Ibérica constituem um segundo importante centro produtor da ourivesaria europeia, embora mais tardio.
Aqui, o ouro começou a ser trabalhado durante o III.º milénio a.C., praticamente em simultâneo com a metalurgia do cobre, ou seja, com o desenvolvimento do Calcolítico, ou Idade do Cobre. Nesta época, os processos de fabrico limitavam-se ao esmagamento das pepitas, através de operações sucessivas de martelagem a frio e recozimento até serem obtidas espirais de fios, ou arames, e lâminas de espessura variável, a partir das quais se modelavam os objetos, por estampagem ou repuxado.
Produziam-se então formas muito singelas: delgadas lâminas de ouro, recortadas em tiras e perfuradas, diademas, pendentes, contas tubulares e espirais.
Os motivos decorativos eram raros e exclusivamente geométricos. Na maior parte dos casos, limitavam-se a orlas de pontilhados feitas por repuxado, ou bandas decoradas feitas por incisão.
A Idade do Bronze traz uma importante inovação tecnológica: a moldagem. Generalizam-se os adornos fundidos em moldes, entre os quais avultam os braceletes maciços de secção circular ou ovalada. A decoração geométrica, ganha expressão, tornando-se cada vez mais rica e exuberante: losangos, triângulos e ziguezagues, organizam-se em composições de grande beleza e complexidade, sobre peças cada vez mais pesadas, numa clara exibição de ostentação simbólica do Poder.
Apogeu e revolução na ourivesaria europeia: Idade do Bronze Final
Durante o final da Idade do Bronze, a fachada atlântica europeia, desde Portugal até à Irlanda, encontrava-se ligada por uma complexa rede de trocas.
O metal que, então, circula como matéria-prima ou como produto acabado é o protagonista deste comércio a longa distância. E para garantir o sucesso destes empreendimentos, assim como o precioso controlo e acesso às jazidas de minerais, trocam-se presentes entre chefes, cuja influência e poder são medidos pelo tamanho, número e peso das jóias e armas que ostentam.
Ao domínio e aperfeiçoamento dos procedimentos tecnológicos já anteriormente conhecidos, juntam-se agora inovações de grande importância, como a técnica da cera perdida e a soldadura, permitindo a obtenção de novas formas, cada vez mais pesadas e sobretudo cada vez mais elaboradas.
A ourivesaria deste período tem em Portugal algumas das suas mais brilhantes expressões, verdadeiras obras-primas da arte e do saber dos antigos ourives: o colar da Herdade do Álamo, os braceletes da Cantonha ou a xorca de Sintra.
Podem individualizar-se, neste período, três grandes “famílias” de jóias: anéis e braceletes, obtidos pela técnica da cera perdida (tipo Estremoz-Vilhena); torques e braceletes maciços, onde está presente a técnica da soldadura e uma típica decoração geométrica; e colares com complicados sistemas de fechos amovíveis, que chegam a pesar mais de 2Kg.
A ourivesaria orientalizante: rutura com o passado: Primeira Idade do Ferro
Os contactos entre a Península Ibérica e o Mundo Mediterrânico, por certo muito antigos, ganham uma extraordinária importância a partir do século VIII a.C., com o estabelecimento de um comércio regular, protagonizado pelos Fenícios. Sob a área de influência de Tartessos, desenvolve-se no sul da Península uma brilhante civilização que incorpora nas suas tradições os hábitos, gostos e maneiras de viver novos, característicos do Mediterrâneo oriental.
A ourivesaria é talvez a área que mais acusa estas profundas alterações: à pesada e maciça ourivesaria que caracteriza a Idade do Bronze, sucede-se uma produção que privilegia a leveza, os contrastes cromáticos e as descontinuidades, revelando-se, sobretudo, pela exuberância de uma nova linguagem decorativa. São abandonados os estreitos limites geométricos existentes anteriormente. Privilegiam-se agora os temas vegetalistas, antropomórficos e zoomórficos, de claro significado ideológico e simbólico.
A ourivesaria orientalizante define-se assim, por uma acentuada perda de peso, por uma alteração intencional da qualidade do ouro, através do uso de ligas com diferentes percentagens de outros metais e pela introdução de duas novas técnicas - a filigrana e o granulado. Alarga-se também o repertório das formas, predominantemente ocas e compósitas: diademas e placas articuladas, colares de contas diversificados, amuletos, anéis e sobretudo as arrecadas, que em Portugal, encontraram um sucesso e adesão tais, que são, ainda hoje, verdadeiros ex-libris da joalharia portuguesa.
A ourivesaria castreja: Idade do Ferro no norte de Portugal
No norte de Portugal, desde os finais da Idade do Bronze e até à conquista de Roma, sedimenta-se uma realidade cultural muito própria, a que é costume chamar “Cultura Castreja”, por um dos seus traços mais emblemáticos ser, justamente, um povoamento organizado em povoados fortificados de dimensão variável, por vezes com as funções próprias de lugares centrais - os “Castros” e as “Citânias”.
Característica desta cultura, na sua fase final, pré-romana e romana, é uma escultura monumental em granito, com representações de príncipes ou heróis - os célebres guerreiros calaicos - e representações de javalis - os berrões - com provável significado tutelar.
Integrando influências claramente centro-europeias, mas também mediterrânicas, a ourivesaria castreja acentua a especificidade e originalidade desta região, através de dois tipos de adornos paradigmáticos: o torques, símbolo de prestígio e poder do chefe guerreiro e a arrecada, a jóia feminina por excelência.
O anel e a moeda: época Romana
Apesar do afluxo contínuo de ouro a Roma, proveniente, quer da exploração das jazidas auríferas, iniciada sob Augusto (cuja produção anual atingiu 7,800 Kg, havendo dias em que se extraiam 4,300 Kg), quer dos saques dos exércitos romanos, que, só entre 209 e 169 a.C., se traduziram em cerca de 4 toneladas de ouro e 800 toneladas de prata, os romanos não trouxeram inovações significativas à ourivesaria peninsular.
Duas categorias de objetos merecem, no entanto, particular destaque: a moeda, maioritariamente em ligas de cobre, mas também em metais nobres (prata ou ouro) e os anéis. Os Romanos parecem ter sido os primeiros povos a utilizarem anéis de noivado e casamento, o anulus pronubis, normalmente usado no terceiro dedo da mão esquerda, onde corria a vena amoris e são certamente os responsáveis pela vulgarização deste tipo de jóia e pela sua utilização em múltiplas funções: indicadores sociais de prestígio, garantia de representação diplomática, simples adorno, ou com funções mágicas e curativas.
Datas: 28 de novembro de 1980 > 18 de abril de 2022 | Local no MNA: Sala do Tesouro | Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia