Filipa Neto, arqueóloga e antropóloga, actualmente Técnica Superior do MNA, escreve-nos sobre a sua participação na primeira escavação da Criança do Lapedo:
Tinha iniciado o meu primeiro trabalho, ainda como estagiária, no Instituto Português de Arqueologia, no serviço do Inventário, quando a sepultura da criança do Lapedo foi descoberta. Era Dezembro, lembro-me que estava muito frio, mas os nossos corações palpitavam de entusiasmo por saber notícias dos colegas que estavam no terreno a fazer a escavação. Quando soubemos que se tratava de ossos humanos, sobretudo de uma criança que tinha sido enterrada com um ritual feito há mais de 20.000 anos, o entusiasmo foi ainda maior. Todos queríamos ir ao local ver. Por isso, foi com enorme alegria que abracei a oportunidade de visitar o local da escavação e, participar, nem que fosse com tarefas singelas, naquele que foi um momento épico para a arqueologia portuguesa. O prazer de viver isso junto dos investigadores responsáveis como a Cidália Duarte (na foto), o João Zilhão e a Ana Cristina Araújo e, mais tarde, poder privar com alguns investigadores estrangeiros de renome internacional que vieram a Portugal analisar, escavar e estudar os vestígios osteológicos, foi uma experiência que que nunca esquecerei. O enriquecimento que adquiri foi o motivo para querer fazer um mestrado em evolução humana. 25 anos depois reencontro-me com a criança do Lapedo no Museu Nacional de Arqueologia, e sinto-me muito feliz de contribuir para a sua preservação e divulgação futura.