«In memoriam»
O Museu Nacional de Arqueologia associa-se à justa homenagem à Senhora Drª Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso dos Santos Silva Pereira que faleceu no passado sábado, 29 de abril, recordando e agradecendo o seu labor e enviando sentidos pêsames à família, designadamente aos filhos Leonor, Mafalda e Filipe. Hoje, 1 de Maio, será rezada missa de corpo presente na Basílica da Estrela, a partir das 12:30h, seguindo o féretro para o Cemitério da Ajuda.
Evocamo-la através de um texto redigido e divulgado pelo Senhor Professor José d’Encarnação a quem agradecemos:
In memoriam de Maria Luísa Estácio da Veiga da Silva Pereira
Nascida em Lisboa a 20 de Fevereiro de 1942, bisneta de Estácio da Veiga, o grande impulsionador da arqueologia do Algarve, Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso dos Santos Silva Pereira recebeu, de certo modo, a herança de continuar a obra de dar a conhecer os vestígios arqueológicos da província onde seu bisavô nascera (Tavira, 6 de Maio de 1828) e pelo prestígio da qual tanto lutara, até porque dele herdara muita documentação.
Assim, preparou com D. Fernando de Almeida a sua tese de licenciatura, que viria a ser publicada, em 1971 e 1972 (dois volumes), pela Associação dos Arqueólogos Portugueses, Arqueologia Romana do Algarve, obra que é, ainda hoje, de consulta obrigatória.
Tendo ingressado no quadro dos técnicos superiores do Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, como conservadora, continuou a estudar parte do espólio de seu bisavô que aí continuava depositado e que ainda não fora dado a conhecer por completo. Estácio da Veiga sonhara com um ‘Museu do Algarve’, ideia que não logrou concretizar, como Maria Luísa salientou quer em O Museu Archeologico do Algarve (1880-1881) – Subsídios para o estudo da museologia em Portugal no século XIX, Anais do Município de Faro, vol. 9, 1979, p.159-284, quer na evocação Estácio da Veiga – Cientista algarvio – Pioneiro da Arqueologia em Portugal, publicada pela Casa do Algarve, Lisboa, 1985 (XVII vol. dos Estudos Algarvios). Pode, aliás, ver-se algo mais acerca dessas diligências de Estácio da Veiga no artigo «Documentos para a história do Museu Nacional de Arqueologia – Aquisição da colecção de Estácio da Veiga», O Arqueólogo Português, IV série, vol. 22, 2004, pp. 491-513.
No âmbito da actividade de Luísa Estácio da Veiga no Museu Nacional de Arqueologia podem inserir-se os seguintes trabalhos:
• «Actividades do Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia», O Arqueólogo Português, 3.ª série, vol. 7-9, 1974-1977, pp. 6-29 (de colab. com Manuel Maia, Maria Amélia Horta Pereira, Elisabete Cabral e Maria Luísa Abreu Nunes – justamente integrantes do grupo dos primeiros arqueólogos ‘nascidos’ da leccionação de D. Fernando de Almeida);
• «Marcas de oleiros algarvios do período romano», O Arqueólogo Português, 3.ª série, vol. 7-9, 1974-1977, pp. 243-268;
• «Alguns aspectos da arqueologia romana do Algarve», Anais do Município de Faro, 6, 1976, pp. 161-203;
• «Instrumentos cirúrgicos de Balsa (Quinta de Torre de Ares)», Conimbriga, 29, 1990, pp. 107-127.
Chegou a pensar seriamente em preparar tese de doutoramento sobre Balsa, de certa maneira em homenagem à terra natal de seu bisavô, Tavira. Recolheu muita documentação para esse efeito, mas o falecimento de seu marido em Abril de 1998 e, por outro lado, o facto de essa época ter correspondido a renovado interesse pelo estudo dessa cidade romana, alvo da atenção de vários arqueólogos, acabaram por a fazer desistir do plano que acalentara.
Deixa-nos agora, aos 81 anos. E se muitos dos seus sonhos acabaram por não se concretizar, o seu legado manter-se-á vivo entre todos os que mais ou menos de perto acompanharam o seu percurso.
Que descanse em paz!
A seus filhos – Leonor, Mafalda e Filipe – e demais família renovamos os votos de mui sentidos pêsames.
O seu corpo está em câmara ardente na Basílica da Estrela, hoje, domingo, 30. Amanhã, 1 de Maio, será aí rezada missa de corpo presente a partir das 12:30h, seguindo depois para o cemitério do Alto de S. João [sic], onde Maria Luísa Estácio da Veiga Affonso dos Santos Silva Pereira será sepultada.
José d’Encarnação