Decreto N.º 14/2021, classifica
A propósito do Projeto de Decreto n.º 14/2021 que classifica como bens de interesse nacional, com a designação de «tesouro nacional», entre outros, a laje votiva em língua lusitana proveniente do Monte do Coelho na vila de Arronches, distrito de Portalegre - atualmente na exposição Religiões da Lusitânia no Museu Nacional de Arqueologia - publicamos um breve depoimento de José Cardim Ribeiro:
«A inscrição lusitana de Arronches constitui uma das seis epígrafes até hoje descobertas redigidas neste quase desconhecido idioma e a única que se encontra conservada num museu.
O seu texto é longo e complexo, oferecendo abundante vocabulário e diversas particularidades gramaticais importantes para uma melhor compreensão desta língua.
O Lusitano faz parte integrante do nosso património histórico e identitário e a classificação da lápide de Arronches como «tesouro nacional» vem revelar-se um primeiro mas fundamental passo para o reconhecimento desse facto.
Falada apenas, nas suas possíveis variantes, na faixa territorial que se prolonga desde o nordeste alentejano e da região ocidental de Cáceres até à Galiza, trata-se de uma língua paleohispânica que não só sobreviveu até à época romana mas que logrou ser então registada por escrito, recorrendo-se ao alfabeto latino.
O Lusitano é um idioma indoeuropeu não celta, até certo ponto parente das línguas paleoitálicas, embora com alguns rasgos fonéticos mais arcaizantes. Trata-se afinal do sobrevivente de uma família linguística decerto originalmente mais vasta, a qual, juntamente com as famílias celta e itálica, integraria a herança idiomática indoeuropeia no ocidente da Europa em época proto-histórica.»