Datas: 28 de março de 2007 a 6 de janeiro de 2008
Local no MNA: Galeria Ocidental
Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia (MNA) e Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
Comissariado científico: Armando Coelho Ferreira da Silva
Tipo de exposição: Síntese local de conhecimentos
A investigação arqueológica levada a cabo no concelho de Vila Nova de Famalicão permite remontar os primeiros vestígios das comunidades aí implantadas a contextos da Pré-história recente, que lhe determinaram um fácies rural, consagrado pela herança medieva da Terra de Vermoim, pervivente até à fase da industrialização, marcante da sua modernidade.
Descobrindo sítios, revelando monumentos, escavando povoados, salda-se já como resultado um minucioso inventário de numerosas situações arqueológicas, que permite delinear uma criteriosa sequência cronológica e cultural das origens do seu povoamento, de que se expõe uma seleção representativa.
Particular realce merecerá o interesse votado à época proto-histórica, que representa um dos momentos mais importantes da formação do seu fundo demográfico e do processo de ocupação e organização do território durante o I milénio a.C., com destaque para a escavação de alguns dos seus castros e sobretudo a excecional (re) descoberta dos banhos do Alto das Eiras, cuja estela profusamente decorada serve de título a esta exposição.
A singularidade destes monumentos, de longa historiografia e diversidade interpretativa, desde os primórdios da Arqueologia portuguesa até à atualidade, tornou-se neste desafio de Arqueologia experimental, reconstituindo a sua estrutura para ensaio de seu funcionamento e debate científico, ora se interpretando segundo contextos da antropologia religiosa das comunidades indígenas do Noroeste peninsular.
Destinados a banhos públicos, sobressaem pelo seu aparato e técnica construtiva como construções singulares do conjunto arquitetónico castrejo, de que se conhecem diversos exemplares por todo o Noroeste da Península Ibérica, desde o Norte da Galiza e Astúrias à margem esquerda do rio Douro, de acordo com Estrabão (c. 60 a.C. - 25 d.C.).
Estas criações arquitetónicas pré-romanas, com possível origem em "cabanas de sudação" de materiais perecíveis, foram monumentalizadas na fase proto-urbana da cultura castreja (séc. I a.C. - I d.C.).
A sua função foi objeto de controvérsia, tendo sido vulgarizados como «fornos crematórios», postos em relação com o rito funerário dos povos castrejos.
Esta e outras hipóteses, como a de fornos de cozer pão ou cerâmica ou de fundição ou ainda a de matadouros de animais, que lhes foram atribuídas sem o devido fundamento, devem ser abandonadas perante a consolidação da sua interpretação como banhos, associados a uma envolvência religiosa.
Uma fogueira acesa na fornalha, com ventilação pela entrada da câmara e chaminé a ativar a combustão, proporcionava o aquecimento do ambiente e dos seixos, sobre os quais se lançava água fria para produzir vapor.
A preparação do banho tinha lugar no átrio, onde, despidos, se untavam com óleos.
Passando por uma área tépida, entrava-se pela Pedra Formosa na câmara, onde se permanecia, em sudação, enquanto durasse o vapor.
Depois, tomava-se um banho de imersão, frio e regenerador, no tanque do átrio e oleava-se pela segunda vez.
Por fim, tempo de recuperação e relaxamento na ante-câmara, com repetição do ritual.
Testemunhos arqueológicos e literários do mundo indo-europeu e paralelos etno-arqueológicos das mais diversas partes sugerem a sua relação com rituais iniciáticos, associados aos ciclos vitais, sob o patrocínio de Nabia, divindade indígena com funções similares às exercidas pela Fortuna romana, propiciadora de saúde, vigor, fertilidade e abundância.