Datas: 17 de março de 2017 a 27 de maio de 2018 | Local no MNA: Átrio do MNA | Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia, Centro de Estudos Clássicos e UNIARQ-Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa | Comissariado científico: António Carvalho. Diretor do Museu Nacional de Arqueologia, Carlos Fabião. Diretor da UNIARQ – Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; Ana Loio. Investigadora do Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Catarina Viegas, Investigadora da UNIARQ - Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Com o anúncio da realização na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa do Seminário Internacional de filologia Editing and Commenting on the Silvae organizado pelo Centro de Estudos Clássicos, estava criado o pretexto para realizar, conjuntamente, uma exposição-dossiê no Museu Nacional de Arqueologia que cruzasse a nossa leitura dos cinco livros em verso, as Silvas de Estácio (45-c.95), com os vestígios materiais recolhidos em território nacional que remetem para o tempo da Dinastia Flávia – que agrupa Vespasiano, Tito e Domiciano -, e que reinou em Roma e em todo o Império entre 69 e 96 d.C.
No tempo dos imperadores Flávios (Vespasiano, Tito, Domiciano), no tempo da arrasadora erupção do Vesúvio (79 d.C.), quando Roma era senhora do mundo, viveu o napolitano Estácio. Quis ser, como Vergílio fora no Século de Augusto (I a.C.), o grande poeta do seu tempo. Depois da monumental Tebaida, teve a ousadia de enfrentar Homero ao compor a inacabada (e genial) Aquileida. Entretanto, tomava forma a obra mais surpreendente, diversa de tudo o que havia sido escrito até então: as Silvas. De teor vincadamente panegírico, os poemas assinalam momentos relevantes da vida pública e familiar dos patronos de Estácio, recorrendo às mais invulgares e originais manobras literárias. Os homenageados são figuras endinheiradas de Nápoles e nada menos que o próprio imperador Domiciano, celebrados pelas suas qualidades intelectuais e artísticas e pelo esplendor das suas magníficas villae, descritas – tal o Palácio de Domiciano, no coração de Roma – como moradas quase divinas.
Nas Silvas, a necessidade de homenagear confunde-se com o princípio estético do contraste entre o gigantesco e o minúsculo – e este reflete-se na poesia como nos trinta metros de altura do palácio de Domiciano, na colossal estátua equestre do imperador, ou no formato mínimo da brilhante estatueta de Hércules, na posse de um patrono. Fascinante documento da cultura material do século I d.C., as Silvas celebram técnicas e materiais de construção, ambientes de luxo (quantas villae na fabulosa Baía de Nápoles!), preciosos objetos de arte (como o Hércules de Vindex); e, ao celebrarem o temível Domiciano – “senhor e deus”, um “Hércules” fascinado pelo Egito – as Silvas ajustam-se à dura realidade política que se impunha. Sob a forma de objetos resgatados ao passado, as Silvas de Estácio regressam hoje a um dos rios que imortalizaram: o Tejo de esplendoroso limo.
Assim nasceu o conceito. A exposição construiu-se então a partir de uma seleção de bens arqueológicos das reservas do Museu Nacional de Arqueologia, do Museu da Fundação Cidade da AMMAIA, do Museu de Sines e da Solubema - Empresa Transformadora de Mármores do Alentejo. O corpus da exposição é constituído por 27 peças arqueológicas que, de alguma forma, coincidem cronologicamente com o período dos Flávios. Nem todas, porém, coexistem com esta dinastia nesse curto espaço de 27 anos.
Perante a fonte, desafiámo-nos a tornar tangíveis as palavras, escolhendo os materiais que a pudessem materializar, ilustrar e valorizar, mantendo e alimentando o fio condutor criado.
A relação desta dinastia com a comprovada renovação urbanística das cidades da Lusitânia não foi esquecida na exposição. Tal é sinalizado, designadamente, pela apresentação do togado inacabado proveniente da pedreira romana da Herdade da Vigária (Vila Viçosa), que assim se apresenta pela primeira vez, em Portugal, no lugar certo – ou seja, em ambiente museológico.
Da reserva do Museu Nacional de Arqueologia emerge um conjunto de peças que nos últimos anos não têm estado à vista de todos, e que assim se valorizam, ao mesmo tempo que permitem ao público aperceber-se da dimensão, variedade e importância das coleções do Museu.
Da cidade Romana da AMMAIA vem também um pequeno bronze figurativo de um Hércules, com feições de jovem, e que foi recentemente exumado nas escavações arqueológicas em curso.
Do Museu de Sines junta-se um conjunto de moedas da coleção reunida por José Miguel da Costa.
A exposição oferece, pois, ao visitante, como uma linha condutora, o universo temporal e material do tempo dos Flávios corporizado na temática das Silvas.
Palavras de agradecimento são devidas a um conjunto de entidades que, correspondendo ao desafio lançado pelo Museu Nacional de Arqueologia e pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa se associaram para levar a bom termo uma ideia. À Fundação Cidade de AMMAIA, à Câmara Municipal de Sines/Museu Municipal de Sines, e à Solubema, entidades emprestadoras que cederam bens arqueológicos. À Lusitania Seguros, mecenas institucional da Direção-Geral do Património Cultural, que garante os seguros dos bens. À Associação Portuguesa de Controladores de Tráfego Aéreo e ao Sindicato Nacional dos Controladores de Tráfego Aéreo pelo patrocínio dado à exposição.
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