Datas: 25 de janeiro de 2016 a 12 de junho de 2016 | Local no MNA: Galeria Poente | Organização institucional: Museu Nacional de Arqueologia / Museu Nacional de Arte Romano, Mérida | Comissariado científico: José María Álvarez Martínez, Diretor do Museu Nacional de Arte Romano, Mérida. António Carvalho, Diretor do Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa. Carlos Fabião, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
► Aceder a informação especializada em (www.lusitaniaromana.com)
A província romana da Lusitânia, uma entidade administrativa criada há mais de 2.000 anos – entre 16-13 a. C. – é talvez uma das menos conhecidas pela historiografia, apesar de ser uma das mais interessantes, devido à sua localização geográfica no Império Romano, como finis terrarum, pela diversidade de povos que a habitavam e recursos endógenos existentes, bem como ao significado político da sua criação. Teve como capital a colónia Augusta Emerita, cidade mandada fundar ex-nihilo, em 25 a.C., pelo próprio imperador Augusto, que incumbiu o seu genro Marcos Agripa de a criar e ali distribuir terras aos veteranos (eméritos) de duas legiões, essencialmente itálicos, que integraram os contingentes militares envolvidos nas guerras de pacificação do noroeste da Península Ibérica, realizadas nos anos 20 do século I a.C. contra os povos Ástures e Cântabros.
Instalada num ponto estratégico do rio Guadiana, a capital desta província articulava a circulação entre outra província, a Bética (atual Andaluzia), as terras do noroeste peninsular e as do eixo meridional em direção à costa atlântica e o seu porto, Olisipo. Augusta Emerita, ao contrário das outras duas capitais da Hispânia romana (Tarraco, atual Tarragona e Carthago Nova, hoje Cartagena) não tinha uma saída direta para o mar, e daí que principalmente Olisipo, atual Lisboa, mas também a restante rede de importantes cidades implantadas junto aos rios Tejo e Sado – Scalabis (Santarém), Salacia (Alcácer-do-Sal) e Cetobriga (Setúbal) – constituíssem um complexo de “portas” de entrada e saída para o grande mar Oceano.
Com a “atlantização” do Império, a partir do governo do imperador Cláudio, em face da necessidade de apoio aos contingentes militares envolvidos na conquista da Britânia e da comunicação com a Germânia Inferior, a posição de finisterra da Lusitânia altera-se, sendo, a partir de então, um espaço de articulação na rota marítima entre o Mediterrâneo e as paragens setentrionais. A Lusitânia tornava-se essencial na criação de um verdadeiro Atlanticum Nostrum que os romanos acrescentaram ao seu Mare Nostrum, o Mediterrâneo.
Esta província romana ocupava então, sensivelmente, grande parte de Portugal, entre o Douro e o Algarve, a atual Extremadura espanhola e uma pequena área da Andaluzia. Quis a História que este território, que os romanos unificaram geográfica, política e administrativamente, ficasse durante séculos repartido por duas nações: Portugal e Espanha. Esta exposição tem por isso como objetivo principal, a partir de uma seleção de bens arqueológicos de inegável importância, dar a conhecer esta Lusitânia romana.
Como todos os projetos, este tem também a sua história, importando recordar que, em 1998, com Adília Alarcão, então diretora do Museu Monográfico de Conímbriga, um dos atuais comissários, José María Álvarez Martínez, gizou o primeiro esboço de um guião, retomado e ampliado em 2013, e agora apresentado ao público, no formato para que foi pensado: o de exposição. A preparação desta exposição internacional conjunta ficou assim cargo de um comissariado renovado, sendo Comissários Científicos da exposição António Carvalho, Diretor do Museu Nacional de Arqueologia, José María Álvarez Martínez, Diretor do Museu Nacional de Arte Romano e Carlos Fabião, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Importa ainda destacar que em 2013 passaram 40 anos sobre a edição de uma obra sempre essencial para o conhecimento do tema, o Portugal Romano, de Jorge de Alarcão.
Esta exposição é também demonstrativa de um novo conceito que, não olhando aos territórios separados pela fronteira política, recupera as fronteiras históricas romanas que, ao longo das últimas décadas, historiadores e arqueólogos da Antiguidade Clássica, espanhóis e portugueses, mas também de muitas outras nacionalidades, têm afincadamente valorizado no seu trabalho, realizando uma investigação que trata a Lusitânia como um todo. Muitos desses investigadores deram importantes contributos para o catálogo disponível ao público.
Esta dinâmica foi estruturada ao longo de décadas, através da colaboração intensa entre instituições de referência, universidades, museus e investigadores de diversos países, que formam o “Grupo Lusitânia”, e reforçada decisivamente pelo ciclo das “Mesas Redondas da Lusitânia Romana”, iniciado em Talence (Bordéus), em 1988 e, desde a 2.ª edição, realizadas alternadamente em cidades espanholas e portuguesas, com um breve regresso a França (Toulouse), e que teve em Jean-Gérard Gorges um entusiástico dinamizador, acompanhado por outros investigadores.
Este movimento permitiu fomentar e afirmar a criação de uma historiografia emeritense e lusitana, que tem um expoente na série “Studia Lusitana”, instituída pelo Museo Nacional de Arte Romano, e na cooperação entre investigadores, processo no qual esta exposição é simultaneamente um ponto de chegada e de partida para novos projetos.
Reunimos, para apresentar nesta exposição, 207 bens culturais de grande interesse arqueológico, histórico e artístico, pertencentes a museus e instituições culturais – catorze instituições de Portugal e cinco de Espanha – de diferentes tipologias e tutelas. No conjunto, apresentamos peças de museus nacionais, regionais, municipais e de outras instituições, bens fundamentais do seu acervo, muitos deles integrados nas exposições permanentes das entidades emprestadoras e que dificilmente se voltarão a reunir.
Numa museografia muito apelativa, estes bens culturais são apresentados distribuídos por diferentes núcleos: I. O Olhar do Outro; II. O Contacto. O Impacto da Presença Romana; III. A Plena Integração do Território Lusitano; IV. As Cidades Lusitanas; V. Viver em Sociedade; VI. A Economia e as Formas de Produção; VII. A Vida Rural; VIII. As Manifestações Religiosas e IX. A Lenta Transformação.
A exposição termina com a projeção de um audiovisual sobre o “Legado Romano” no território português e da Extremadura espanhola e que se constitui como núcleo X.
A exposição Lusitânia Romana. Origem de dois povos / Lusitania Romana. Origen de dos pueblos apresentou-se primeiro no Museu Nacional de Arte Romano, em Mérida, entre 23 de março e 30 de setembro de 2015, e agora mostra-se no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa de 25 de janeiro a 12 de junho de 2016, integrada agora no programa cultural “Mostra Espanha 2015”. Equaciona-se exibi-la também em Madrid, no renovado Museu Arqueológico Nacional, no verão de 2016.
Esta mostra é o resultado da vontade e do poder executivo de um consórcio que tomou a seu cargo a respetiva organização: o Museu Nacional de Arte Romano, o Museu Nacional de Arqueologia e a Junta da Extremadura, com a colaboração científica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, suportados pela Direção-Geral do Património Cultural do Ministério da Cultura, em Portugal, por distintas Direções Gerais do Ministério de Educação, Cultura e Desporto e Junta de Extremadura, em Espanha, além de outras instituições da cultura e turismo de ambos os países.
Todos os bens culturais expostos são segurados pela Lusitania Seguros, mecenas institucional da Direção-Geral do Património Cultural português.
Esta exposição é acompanhada por um catálogo com textos de investigadores de cinco países, simultaneamente uma síntese e atualização da investigação realizada nas últimas décadas, publicado no âmbito da parceria editorial existente com a Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Uma excelente oportunidade para mostrar o legado romano na Lusitânia, com o fim de suscitar e ampliar o interesse do público e da comunidade científica internacional pelo tema.
Roma trouxe consigo e expandiu a sua ideia de Estado e a sua Cultura a todo o território peninsular, articulando uma rede de infraestruturas e gerindo um tecido político, administrativo e religioso com a figura da cidade como eixo fundamental. Este feito histórico dilatou-se ao longo de cinco séculos e do seu legado patrimonial disfrutam hoje tanto o Reino de Espanha como a República Portuguesa. De forma especial, a província da Lusitânia é um paradigma de uma realidade cultural que une ambos os estados. Os vestígios arqueológicos reunidos, bens culturais únicos que se mostram agora no Museu Nacional de Arqueologia têm como função fundamental: contar a história da antiga ocupação humana do território da Lusitânia hoje a maior parte de Portugal e parte de Espanha.